Século XXI, Lei Maria da Penha, mulheres no mercado do trabalho, igualdade de gêneros apregoada por todos os cantos. Apesar dessas conquistas, 10 mulheres são assassinadas, no Brasil, diariamente, a maioria por motivos banais, como recusa a fazer sexo, rompimento de relacionamento, pedido de pensão alimentícia, falar demais. A situação se agrava a cada ano.
O que está acontecendo? É ponto pacífico o fato de que as relações entre homens e mulheres se estabelecem principalmente sob o signo do poder, e que este poder sempre foi exercido historicamente pelo homem. Mas há várias outras vertentes, como a projeção insistente e exclusiva do arquétipo feminino na mulher, a necessidade de atualização desse arquétipo, o preconceito de gênero, o patriarcado, etc...
Parece-me que o preconceito de gênero é um bom caminho para reflexão. A doutora em Sociologia e consultora internacional sobre a temática Gênero e cidadania social, Paolla Capellin, faz uma importante distinção entre preconceito e discriminação. O preconceito, segundo a socióloga, está no ideário dos indivíduos, enquanto a discriminação é a materialização do preconceito. A discriminação é passível de ser interditada e criminalizada; só pode “ser proibido pela consolidação da ética no e pelo sujeito”.
Preconceito é uma questão ética, e a falta de ética talvez explique a ineficácia das leis tão avançadas de proteção à mulher. Se o cidadão comum e os responsáveis pela aplicação da lei estão contaminados pelo preconceito de gênero, as ações se desvirtuam pela necessidade de dar vazão ao preconceito.
As piadas e histórias que desqualificam as mulheres, com certeza, é uma forma de dar vazão ao preconceito e de perpetuá-lo na mente das pessoas.
O momento pede conscientização, responsabilidade e integridade. Conscientização de que as polaridades masculinas e femininas devem ser trabalhadas e valorizadas na própria alma; responsabilidade para respeitar o parceiro do sexo oposto, antes de tudo como um indivíduo; e integridade para externar, através de ações, o respeito e o valor que o sexo oposto merece.
Márcia Matos é jornalista
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